sexta-feira, 16 de novembro de 2007

The Londoner #2

Enquanto eu vinha do aeroporto de gatwick para a estacao victoria, eu
fui tendo meus primeiros vislumbres de uma inglaterra rural sob um sol
bem capenga de meio dia que so conseguia espalhar sombras sob a luz
amarela do que seria umas quatro da tarde bem torta em maceio. Me
impressionei pela unidade tanto da vegetacao quanto da arquitetura, me
perguntando se os arquitetos aqui sao impedidos de ter criatividade e
inventividade, para manter essa unidade. Na estacao victoria, mal eu
cheguei atordoado, chegou um indiano me falando em alguma lingua
incompreensivel, provavelmente hindu, e depois de alguns intantes
olhando para minha cara de desgosto, ele finalmente perguntou vc nao e
da india, ao que eu respondi um nao mau humorado. De novo essa
ascendencia indiana perdida me persegue, juro que queria entender de
onde ela veio, mas pelo menos agora eu sei que se eu sofrer muito com
preconceito e me sentir excluido da sociedade londrina ao menos eu
procurarei refugio na comunidade indiana, onde eles com certeza vao me
aceitar. =s

Mas muito bem eu arrastei meus quarenta quilos pelo metro
incrivelmente barulhente e chacoalhante da linha victoria ate chegar
na ultima estacao, minha querida walthamstow central. Sai arrastando
as malas pelas escadas, tao bobamente feliz que ia poder descansar
minha exaustao, so para me tocar que nao adiantaram as horas tentando
memorizar o lugar pelo google earth, eu estava perdidinho e nao sabia
para onde ir, arrastando quarenta quilos. Tinha um shopping na minha
frente, e tudo o que eu conseguia pensar era num banquinho onde me
esparramar, entao fui pra la meio sem querer pensar para onde eu
deveria ir. Perda de tempo, la nao tinha banquinhos. Sai e dou de cara
com uma feira, uma feira de rua, e comecei a notar como o tinha arabe
e negro na feira, e eu perguntando onde e hoe street, onde e hoe
street, e ninguem sabia. O pior e que era a rua ali na esquina, bem
facil, segundo me disse um passante, mas os outros continuavam nao
sabendo, e eu so subindo a ladeira da rua, sem lembrar que numero era
a desgracada da chamber house. Entao que decidi arriscar mesmo, nao me
importei mais se era o meio da rua e nao tinha bancos, abri a mochila
ali mesmo no meio da rua e peguei a carta da escola que tinha o
endereco, e vi que estava indo para o lado errado, entao desci em
busca do 406. Isso eu morrendo de calor suado sujo e um frio gelando
minhas maos e minha cara.

Entao pula de 404 para o 410 e eu quase quebro a rua de raiva. La vou
eu perguntar pros arabes-demencia e o cara nao sabia nem dizer se era
a hoe street mesmo, pq eu nesta altura achava que estava na rua
errada. Entao sambei pra la e pra ca, tentando achar um buraco magico
que abrisse com o numero 406 no meio, e entao vi duas pessoas, uma com
cara de mae e outro com cara de filho carregando malas entrando numa
prtginha que ficava depois da esquina entrando numa rua transversal. E
la tinha na maior cara de pau: 406, Chamber House.

Eu tentei entrar, e a mulher que estava segurando a porta para o
menino que subia as malas disse bem chatamente o que vc quer? Eu falei
eu vou ficar nesta casa tambem, entao ela disse pera e subiu, e la fui
eu arrastando meus quarenta quilos por uma escada apertadinha tao
exausto que estava com medo de minhas pernas cairem junto com as malas
escada abaixo. Quando eu finalmente chego la em cima, suado pingando e
me esparramo na cadeira, dou de cara com 3 pessoas, o cara, a mulher
chata, e um careca todos falando alto numa lingua que nunca ouvi na
vida, todos me ignorando completamente, entao olhe pra esquerda, olho
pra direita, olha pro teto, olho pro chao, tudo estava escrito em
alguma lingua incompreensivel, e me deu um medo tao grande eu queria
sair correndo pelas escadas pular pela janela meu deus eu so achava
que eles iriam vender meus orgaos. Mas eu respirei, fiquei olhando sem
parar para a mulher ate que ela olhou pra mim, entao eu entreguei a
carta da escola e ela a pegou e saiu! O menino tinha sumido e deixado
as malas e eu olhando pro careca que estava rindo quase chorando
pedindo para ele levar so um rim ou um pedaco de figado.

A mulher volta, fala em ingles comigo, e diz que eu tenho que pagar
cinquenta libras de deposito, mas que eu receberia esse dinheiro de
volta quando saisse da acomodacao deles. E eu claro claro pago sim
minha filha, qualquer coisa para sair daqui mais rapido, quando so
entao eu noto uma bandeirinha da republica checa na parede, meu deus
eram todos checos. A mulher escreve num post it amarelo um endereco,
me entrega e diz essa e sua casa. Eu com cara de nao entender nada e
ela so acrescentou, nao-sei-quem vai levar vc de carro pra la. Bom,
pelo menos eu nao ia ter que morar com ela ou com o careca do mal.
Entao eu fiquei sentado la, olhando pro chao, esperando por nem sabia
quem, quando ela me mandou ir para outra sala, quando de repente
aparece uma pessoa com cara de normal e olha pra mim, me cumprimenta,
me pergunta de onde eu sou e quando eu digo que sou do brasil ele faz
eu tb todo alegre e depois se volta para os checos entrega a chave e
diz xau e eu abanando os bracos louco para perguntar para ele como e
como foi como seria e principalmente como eu faria para me mudar dali
mas ele ja tinha indo embora. A mulher me levou para a sala ao lado,
onde tinha um homem numa mesa conversando com o minino que eu tinha
encontrado na porta, e tres computadores ocupados por tres checos
jovens sorridentes que usavam a internet em meio a cartazes, fotos,
imagens, revistas e jornais todos em checo, acredito eu.

Entao eu espero, espero, espero, e comecemo a desesperar, porque
ninguem falava comigo ou me dizia nada, todos so rindo falando alto em
checo e eu tentando adivinhar o que acontecia. Meio que deduzi que o
homem da mesa estava explicando os termos do contato para o menino que
havia chegado igual a mim, e entao ele assinou o contrato e saiu, e o
homem olha pra mim e pergunta coisas em checo. Eu faco cara de chocado
e digo que nao entendo, ele faz ah! e fala em ingles que quer ver me
explicar sobre o contrato. Eu sento la e digo que ja esta tudo certo e
que ja inclusive havia pago o deposito de 50 libras para outra mulher
e ele diz tudo certo pode esperar la. Volto pra minha cadeirinha de
burro e fico vendo as pessoas olhando sites em checo enquanto
anoitecia la fora pela janela onde eu podia ver as incontaveis lojas
da hoe street, todas com um ar de lojinhas toscas do centro de maceio.

Um checo simpatico de bandana da cabeca vai embora e quando passa por
mim e ve minha cara de morte me diz que eu tambem posso usar a
internet se quiser, entao eu pergunto a senha e senbto todo feliz no
computador dando gracas a deus de poder avisar ao mundo onde eu
estava. Mas nem durou tanto essa alegria, porque entao veio mais um
estranho e disse que era hora de irmos, ele iria me levar em casa.
Depois que colocamos a mala no carro, veio o tal menino que chegou
igual a mim trazendo as malas dele, entao eu entendi que ele iria
conosco no carro e que era por ele que eu esperava. Tentei trocar
algumas palavras com o motorista mas ele nao soube falar mais ingles
que descobrir de onde eu era e se chocar por eu ser do "brasilia" como
tambem me dizer que ele era da eslovaquia, e nao da rep checa. O outro
menino entra e vamos em silencio ate a carisbrooke road, numero 16,
bairro waltham forest, para o que seria meu lar pelos proximos 15
dias.

Quando chegamos na porta o motorista avisa pro outro cara que tem que
ir checar primeiro e sai do carro entao aproveitei para me comunicar
com aquele ser que estava do meu lado. Perguntei o nome dele, ele
disse leslie, e disse que ele tambem era da eslovaquia. Entao ele
soube que eu era do brasil e me chamava douglas e estranhou meu nome e
meu sotaque ser ingles, eu eu nao tive tempo de explicar, o motorista
voltou para nos ajudar com as malas. A casa e mais tipicamente inglesa
impossivel, colada nas outras, com a salinhas saindo em hexagono do
resto da casa, isso eu morrendo de medo de morar no primeiro andar e
ter que subir escadas com aquelas malas de novo, quando ele nos mostra
uma porta embaixo para um quarto grande e comprido, que ia do comeco
ao fim da casa, com tres camas tubulares dessas insinuante e um
armario-guarda-roupas de duas portas pequeno no canto. Cada cama tinha
um endredom e um travesseiro, e em uma delas, na que ficava do lado do
armario, tinha um homem de meia idade com cara de exaustao, que abriu
um pedaco de olho para ver quem chegava. Eu deixei as malas no chao do
lado da minha cama, que fica do lado da que o leslie colocou a dele, e
me sentei. Entao tentei falar com o homem de meia idade e perguntei
seu nome mas ele nao pareceu me entender, e depois do que apreceu um
minuto olhando para mim com cara de letargia ele respondou qual era o
nome dele. Sem saber o que fazer eu fiquei ali sentado, olhando pro
chao, esperando que alguem me dissesse o que estava acontecendo ou que
algum brasileiro entrasse no quarto e dissesse oi! Mas no fundo eu ja
antecipava o que temia, que naquela casa, so teria gente da eslovaquia
e que nenhum deles sabia falar ingles.


O homem de meia idade deitou sua exaustao na cama de novo e o leslie
voltou pro quarto, coms eu jeito semi-rapper super animado. Eu comecei
a falar uma palavra e ele saiu porque o telefone dele estava chamando.
Eu queria ver e saber onde era o banheiro ou quem morava na casa mas
nao queria sair entrando pelos cantos e esbarrando nas pessoas entao
coloquei a cabeca fora do quarto como uma tartaruga e achei o
motorista. Perguntei porque ele ainda estava ali, e com um ingles
quase inexistente ele respondeu que ele tambem morava ali.

A casa tem quatro quartos em cima, cada um ocupado por um casal de
eslovacos, arado, o "motorista" trabalha na agencia, que se chama
bohemian world, e mora la com a namorada, lucy, que apareceu enquanto
arado me mostrava o jardim (mato) no quintal. Embaixo o que seriam
duas salas foram convertidas em dois quartos, no menor mora um checo e
um eslovaco, e no outro, que e o maior, moramos eu, o leslie e o joani
- homem de meia idade. So o leslie fala algum ingles.

Quando o leslie finalmente saiu do telefone, eu que estava do lado do
arado - bem simpatico por sinal - sem falar nada e morrendo de agonia,
ele me perguntou se eu queria comprar alguma coisa para comer, e como
eu sabia que tinha um ASDA, que e do wall-mart perto de casa, eu disse
que sim, vamos, entao saimos. Eu nao sabia bem para onde ir, mas mal
dobramos a esquina eu me vi no meio da mesma feira de rua cheia de
gente estranha de novo, entao deduzi que estava perto. Saimos seguindo
a rua meio as cegas enquanto conversavamos e acabamos encontrando o
supermercado. Que feliz, eu comprei pao, queijo, presunto e agua e so
deu tres libras.

Voltei pra casa todo feliz, apesar da exaustao, com a economia que
tinha feito e pensando que bom que aqui comida e barata - ao menos no
supermercado. Era noite escura, mas ainda nao era sete da noite, entao
eu estava louco para pegar um metro e ir pro centro mas o leslie ficou
me dizendo que nao se anda para o centro a noite que e tao caro que e
tao longe que e tao dificil e eu estava tao cansado que da cama
tubular sem cobertas e do travesseiro sem fronhas eu nao sai mais.

Entao que soube que o leslie, vejam so, na verdade se chama ladislav,
leslie e so um nome mais facil que ele usa para os ingleses nao
ficarem errando o nome dele, e mais ainda, vejam so, o ladislav nao e
eslovaco, ele e hungaro. Pois e, ele nasceu e morou a vida toda na
eslovaquia, mas ele e hungaro. Comecei a despertar entao para essa
coisa tipica do europeu, de ser tao orgulhoso e fiel as suas raizes e
sua etnia e seu povo, a familia dele mora na eslovaquia desde sempre,
sempre na mesma cidade, mas sao todos hungaros, de uma epoca em que as
fronteiras dos paises nao eram tao absolutas, entao nem eles aceitam
se mudar da terra de onde vieram, nem absorver a etnia e a cultura do
povo que sobreveio. Interessantissimo.

Mas nao sei em que momento eu ja dormia, e apesar de ter tido para o
ladislav me acordar no maximo meio dia, quando eu acordei ja eram tres
da tarde. Mas enfim, eu precisava,

The Londoner #1

E quando eu entro no ônibus pingando em lágrimas eu dou de cara com Olga Krell (professora de sociologia da UFAL que foi da minha banca no TCC), que sendo toda simpática - esquisita de novo pergunta se eu estou com alguma irritação no olho. Eu expliquei que estava indo para Londres e ele pareceu toda animada e ainda mais esquisita balançando minha mão e me desejando boa sorte. Eu gosto dela.


Inesperadamente eu dormi no ônibus e acordei já quando as pessoas desciam no aeroporto. Enquanto eu pegava minhas malas Olga Krell apareceu de novo para me cumprimentar antes de ir embora. Vários taxistas apareceram que nem urubus e ficaram me fazendo medo de ir sozinho dali até o aeroporto e era só atravessar a rua! Mas eu acabei seguindo os conselhos e paguei sete reais. Fui direto para o check-in, embora estivesse com apertado para fazer xixi desde quando saí de Maceió. Não com muita surpresa, minha mochila pagou 20 quilos, e o cara disse que eu tinha que despachar junto com a mala, que estava pesando só 19 quilos! Então eu usei a bolsa que Rodolpho colocou amarrada na minha e coloquei documentos e laptop e dei tchau para o resto.


Eu estava morrendo de fome, não tinha conseguido comer nada ainda desde que tinha acordado, então procurei algo pra comer e sem muita surpresa vi que o bob’s era a opção menos pior em custo - beneficio, e gastei 13 reais pra comer quase nada. Mas enfim. Então eu tentei achar uma conexão wireless pra usar, e achei, e conectei, mas ela ficou só conectada a rede local, e não a internet. Então eu vi que dois cafés lá tinham sua própria rede de internet, comprei um pastel de santa clara (caríssimo, 3,50) e pedi a senha. Conectei, mas novamente, só a rede local, nada de internet. Acabei fazendo nada e sem querer catar outra, eu tenho impressão de que e meu laptop que está desconfigurado ou que tem algo que faz com que ele não se conecte a internet, só a rede local, se alguém tiver alguma idéia aí, me avisa por favor.


O vôo saiu pontualmente as 19h20, e eu muito que me agradei da TAP. Os aviões pareciam novos, a distância para a cadeira da frente era um pouco maior do que eu esperava, e os comissários de bordo eram simpáticos e me deram um jornal de Portugal que fiquei lendo. Tudo foi muito, mas muito melhor que a desgraça da Delta Airlines por quem eu voei para os EUA, cujos aviões eram velhos, apertados e cheios de funcionários mal-educados.Teve o jantar básico, onde as comissárias não me entendiam direito, nem elas a mim, e depois eu fiquei ouvindo musica, e quando eu achava que já estávamos chegando, ainda faltavam 3 horas de vôo. Eu estava muito agoniado, com insônia, não dormi nada, e às sete horas pareciam que nunca iam acabar. Então depois de anos de espera as luzes reacenderam, veio o café da manha, eu com vergonha acabei não falando com o brasileiro simpático que foi do meu lado e o avião pousou em Lisboa, ainda de noite, a hora local era 6h, temperatura 11 graus Celsius.


O avião pousou do outro lado do mundo, descemos de escadinha e pegamos um ônibuzinho e cruzamos muito terreno até chegar no aeroporto, e então eu entendi a notícia do jornal que falava da polêmica na construção de um novo aeroporto de Lisboa, pelo visto mais que necessário. Lá chegando mandaram que entrássemos na fila de "todos os passaportes". Meu vôo para Londres saia as 7h50. A fila não andava, e eu finalmente conversando com o brasileiro simpático que ia para Barcelona; pensamos em mudar para a fila "passaportes de países língua portuguesa". Acabei mudando e me arrependendo de não ter mudado bem antes, visto que foi bem mais rápido e simples. Ganhei meu carimbo de entrada no espaço Shengen, que compreende a maioria dos países da União Européia (o Reino Unido não faz parte do Shengen). Então eu desci para onde as placas indicavam que eu podia pegar minhas malas, e me percebi sozinho e sem ninguém do meu vôo. Tentei voltar, e uma portuguesa não - simpática disse que eu não podia mais por ali, tinha que sair e entrar de novo pelo saguão principal. Eu perdido, puto pela dificuldade de entender um aeroporto que estava na minha língua, fui parar do lado de fora e não consegui descobrir como voltar. Isso era o mais bizarro do português de Portugal, talvez por que fosse a mesma língua e que portanto eu devesse entender tudo mais facilmente, coisas que eram palavras chaves importantes aqui no Brasil, eram diferentes lá, então eu não sabia como dizer check-in e portanto, não sabia nem como pedir informação, ¬¬.


Então entrei numa fila qualquer quando chamei uma portuguesa que parecia bem simpática. Ela me disse que eu já tinha feito check-in no país de origem, e que portanto minhas malas "seguiam" e que bastava eu embarcar de novo, mas onde? - eu perguntei, porque não tinha escrito no meu bilhete, então ela, realmente hiper - simpática, foi procurar informações e escreveu no meu bilhete, plataforma 20, mas eu ainda não sabia por onde ir para chegar lá, e ela disse vá em frente depois a direita. Cheguei numa nova fila, ganhei mais um carimbo no meu passaporte, de saída do espaço Shengen, mais detectores de metal e raios-x e cheguei na fila da plataforma, muito apertado (de novo, super Zé mijão!). Esperamos um pouco e pegamos mais um ônibuzinho para ir para muito longe pegar o avião da TAP de novo. Esse avião era menor, e eu fiquei num lugar meio bizarro, do lado de uma saída de emergência, em frente a um lugar que as aeromoças ocupavam durante o pouso e decolagem. Tentei manter atenção na paisagem portuguesa vista do alto, mas estava tão exausto que acabei dormindo. Mas eu estava faminto também, e acordei instantaneamente quando jogaram um sanduíche ruim na mesinha da minha cadeira. Comi e dormi de novo, e só tentei me despertar, com muita dificuldade, quando começamos o processo de pouso. A temperatura era de 1 grau, 10h20 na hora local.


Fui um dos primeiros a descer do avião e já desci correndo atrás de um banheiro, morrendo de medo de que não tivesse um antes da imigração. Depois de muito andar, muitos corredores percorrer, vi o banheiro do lado das imensas filas da imigração, uma para os europeus, outra para todos os passaportes. Fui ao banheiro e então finalmente minha cabeça ficou ocupada simplesmente com o medo de ter minha entrada recusada. Quando vi que não tinha preenchido o papelzinho de pouso, e saí da fila para pegar um, e voltei de novo muito atrás, a fila era realmente grande e passava muito devagar. Tinha alguns americanos, reclamando do fato de serem jogados junto com possíveis terroristas, muitos russas, todas vestidas exageradamente, quase como prostitutas, uns árabes, umas pessoas de origem bem estranha que eu não podia adivinhar de onde, e mais outros tipos. Vi um cara com o passaporte que parecia brasileiro ao longe, mas não tive coragem de me comunicar, e não sabia se achava melhor que só tivesse um brasileiro ou não, mas afinal, eles não pensariam "mais um brasileiro" quando fosse minha vez. Isso tudo eu morrendo de raiva de mim mesmo por não ter trazido uma caneta, pois eu achava que tinha preenchido errado o meu papelzinho, mas não poderia saber, e a fila andando devagar, e eu morrendo de nervoso. Então comecei a ver as pessoas recusadas reclamando e com cara de nervosas num banquinho do lado, e um cara que parecia americano gritando no telefone que a mulher da imigração disse que ele era um mentiroso e que ele não ia estudar lá e que ele queria se mudar para lá para sempre e tinha recusado a entrada dele e ele não sabia o que fazer pois tinha pagado super caro pela universidade e tal eu morrendo mais ainda pensando ai meu deus e eu que vou pra uma escolinha tosca de inglês? Depois de anos finalmente chegou a minha vez, e nesta hora, como todos os europeus e cidadãos do UK já tinham entrado, aumentaram o número de pessoinhas e criaram uma bifurcação na fila. Eu tomei a decisão de ir para o pedaço novo, indo para o pessoal da imigração que tinha recepcionado os europeus. Da fila, já perto da minha vez, eu reparei nesta senhora, de meia idade, bem sorridente, e que parecia bem simpática, e então que o cara que estava na minha frente foi para ela, e eu fiquei triste pensando que pena queria ter ido para ela, todos os outros pareciam mal-encarados. Mas o cara que estava na minha frente era americano, e foi super rápido, então era minha vez e a senhora simpática me chamava. Ela perguntou o que eu pretendia fazer na Inglaterra, eu disse estudar inglês, ela perguntou porquê, e eu disse porquê eu quero ser diplomata, hauahua, assim mesmo que nem uma criança que diz que quer ser astronauta, e eu tentando fingir que meu inglês era pior e que eu era meio burro, ela perguntou se eu não podia estudar inglês no meu país, e eu só consegui dizer "mas não é a mesma coisa", ela deu um sorriso semi-simpático e achou meu visto no passaporte. Então ela perguntou se eu tinha vindo de Lisboa ou de Porto, eu disse Lisboa, ela terminou de preencher o papelzinho, carimbou o visto e disse boa sorte. Eu quase sem acreditar que pudesse ser tão simples, com tantas histórias de gente que tinha as malas abertas e vasculhadas, e que faziam exames de raio-x na barriga para ver se carregavam drogas ou não. Mas vai ver que foi realmente bom que eu tenha ido para Gatwick, e não para Heatrow, que era o aeroporto mais perto de Londres, por lá e que dizem que tem a imigração mais insuportável.


Agora eu cruzara a linha de fronteira do Reino Unido, e ninguém mais poderia me tirar. Estava inflado e feliz e fui meio perdido procurar minhas malas. E meu deus não tinha esteira de aviões vinda de Lisboa então eu não fazia idéia de como ia achar essas malas, então eu só olhei para as esteiras, sem me importar de onde vinham os aviões, quando eu vi minhas malas assim do nada, dançando na esteira, hauhauah, ai sai correndo e peguei-as, entrei na fila do nada a declarar, e sai meio atordoado tentando me lembrar o que eu tinha que fazer no aeroporto. Passei num guichê e troquei meus dólares por libras, de forma que agora eu tinha um total de 250 libras, menos do que eu esperava, mas eu tenho os cartões para emergências, então tudo bem. Fui procurar locomoção do aeroporto para Londres, e vi que tinha um Gatwick Express que era direto, e um trem da Southern que fazia paradas, mas um era £16 e o outro £9 e eu não tinha pressa não é? Então fui ao da Southern mesmo, que saía às 12h25. Pois é, eu passei quase duas horas na fila da imigração.


Isso a mochila começava a doer nas minhas costas, e eu queria telefonar para casa, mas não lembrava de jeito nenhum aquele número da Embratel de ligar a cobrar, então fui direto para a plataforma, e deixei para telefonar da estação Victoria, para onde o trem me levaria. Alguma espera depois e depois de rasgar um pedaço da mochila chega o trem, e eu sento do lado de uma mulher, com as malas bloqueando o corredor, e eu morrendo de medo/vergonha. As paradas eram duas só, e bem rápidas, o trem era muito legal, novo e confortável. Eu me mudei para o lado de um velhinho para tentar acomodar melhor as malas, e ele muito simpático, quando saiu em uma das paradas disse sente no meu lugar e coloque sua mala no assento do lado, assim você fica mais tranqüilo. Isso eu sempre com um medo de não entender direito o que os ingleses falavam, mas ate então eu conseguia meio num método de adivinhação, mas o sotaque deles é realmente muito mais intricado, e difícil nas ruas.


Chegando à Victoria eu fui comprar bilhetes e expliquei para a mulher do guichê que tinha acabado de chegar e que não sabia o que comprar, eu disse que ia ficar na zona 3, e ela disse que tinha um bilhete que durava uma semana e que eu podia pegar qualquer transporte, metro, trem ou ônibus quantas vezes quisesse nesta semana, por 27 libras. Eu quase caio duro! 27! Então perguntei quanto seria um ticket de ida no metrô pra Walthamstow, "meu" bairro, e ela disse: 4 libras. Santo cristo que transporte mais caro, então decidi comprar o de 27, afinal ao menos nesta semana eu precisaria mais, já que estaria mais perdido, depois eu vejo o que compro, e não sei direito ainda como funciona o oyster card ou o de estudante. Enfim, fui direito pro metrô, depois de pedir ajuda a um latino com um sotaque quase incompreensível, e qual não foi minha surpresa ao ver o metrô. É realmente muito velho, muito antigo, e isso é muito bizarro na minha cabeça, por que metrô é supostamente algo novo, mas o daqui não, então é tudo muito com cara de mina de carvão do século passado, e o metrô em si é bem apertadinho e pequeninho e com o teto baixinho, tipo menos largo que um ônibus, e com um corredorzinho no meio, ao menos esse metrô da linha Victoria, que foi o que eu peguei. Para vocês sentirem como eu moro longe, minha estação é a ultima da linha, e fica distante 11 estações da estação Victoria, que fica no centro. Pois é, foi uma viagem.

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