terça-feira, 25 de dezembro de 2007

the londoner #18

Mas eu não tinha dormido ainda, e por incrível que pareça, nem me sentia doente, nem me sentia cansado, nem sentia sono. Ainda assim resolvi ir logo para casa e não demorou acabei dormindo. Para acordar às quatro da manhã.

A insônia só piorava, cada noite era um tormento diferente, e já ia ser natal. Acabei não saindo da cama no fim de semana, sem me sentir muito bem. Na segunda, já véspera de natal, decidi tentar fazer algo mais divertido, para tentar esquecer que era natal. E foi assim meu primeiro dia de turismo em Londres.

Fui com a Carla para a torre de Londres e para a Tower Bridge, e tiramos algumas fotos. Foi bem legal, mas então deu um problema no meu oyster card – o cartão de transporte – onde surgiu um debite misterioso de uma libra. Depois de horas falando com atendentes lá na estação de London Bridge e no telefone, resolveu-se que o sistema tinha errado, e que eu tinha que pagar essa uma libra lá, que depois eles enviariam esta uma libra para eu pegar na estação que eu escolhesse. Babaquice.

Não tínhamos para onde ir, e não queríamos ir para casa, um problema. Fomos até a casa do Ed, lá em Willesden Green, mas acabamos nos desencontrando, e então voltamos para a Oxford Street, e entramos num Starbucks coffee qualquer. A Carla me deu uma xícara do Starbucks de presente de natal e eu fiquei só envergonhado por não dar nada a ela. E lá embaixo, quase em silêncio em louver de nossa tristeza, a Carla nota que do nosso lado estava sentado um cara que havia trabalhado conosco em nosso primeiro trabalho com o John, o do museu de história natural.

E ele também nos reconheceu, então uma hora se levantou e veio perguntar se nós já havíamos trabalhado com ele. Dissemos que sim e logo ele puxou uma cadeira e se sentou. O nome dele é Kelvin, Inglês de uma cidade perto de Londres, e que trabalha com catering para arrumar dinheiro para pagar por seus gastos com música, ele é músico. O mais simpático que um inglês consegue ser, ele ficou puxando assunto e logo eu pensei que ele era outra alma solitária perdido numa véspera de natal solitária numa cidade com tanta gente. Ele disse que iria trabalhar no outro dia, e como no dia de natal, 25, não há transporte nenhum funcionando, ele iria dormir na casa de amigos aqui em Londres mesmo. Mas ele ainda precisava comprar um presente, em Covent Garden, e nos chamou para ir junto. Claro que fomos.

Lá as lojas todas estavam já fechadas, mas os pubs não, e fomos para um pub australiano ali perto. Como sempre, a seleção de músicas era sensacional, e as paredes cobertas de pôsteres, mapas e bandeiras, com direito a um semáforo pendurado numa delas, davam ao clima um toque especial de rock inglês. Ele nos apresentou uma cerveja doce, verde, que me pareceu bem melhor que as cervejas tradicionais. Jogamos conversa fora e logo foi ficando tarde, e eu com medo de o transporte fechar e eu ficar perdido na rua, mesmo porque no outro dia não teria transporte, então seriam dois dias na rua.

Voltamos eu e Carla em clima fúnebre, e fomos cada um para sua casa, sempre em silêncio. Quando eu abri a porta, crente de que eu iria me enfiar na minha cama para chorar a noite toda, o Stefano grita êeee o Douglas vai passar o Natal com a gente!

Quase sem acreditar eu fui para a cozinha, onde estavam a Núbia, seu marido, o Deovane, o Marquinho e mais uma amiga dele. Do fogão vinha um cheiro bom de comida. Me ofereceram vinho e eu puxei um cadeira. O clima era soberbo, incrivelmente familiar – que não é tão estranho considerando que Núbia e Deovane são casados, e o Stefano cunhado deles – e eu me senti rapidamente acolhido. Ficamos conversando sobre a vida, a saudade, e não demorou foi servida a ceia, com peru, perfil, arroz e uma salada maravilhosa. E como foi bom me socializar e perceber o quanto aquelas pessoas eram legais, e como foi bom que elas fossem maduras e com famílias e filhos, talvez não fosse isso o clima tivesse sido outro, e era aquele o clima que eu precisava. Comi muitíssimo bem, comida com gostinho de Natal, e continuamos na cozinha até um pouco depois da meia noite, quando as pessoas foram indo dormir. Como não tinha transporte, a amiga do Marquinho dormiu aqui, e no dia seguinte também.

Depois eu ainda liguei para casa, onde o computador estava no meio da sala da minha tia, e falei com todo mundo reunido. É, o natal foi feliz até, especialmente considerando minhas condições atuais.

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