sábado, 26 de janeiro de 2008

the londoner #23

Enquanto isso na minha casa. O Marim chegou tomando meu lugar de filho da Núbia e do Diovane e eu fiquei com ciúmes. Eles logo estavam vendo filmes todas as noites na televisão widescreen 29 polegadas tela plana que eles acharam no lixo aqui em frente do prédio. (!) Mas no fim das contas eles adotaram os dois filhos. Eu realmente tive muita sorte de morar aqui nesta casa.

A carioca, Helaine, ligou brigando com o Marcos, a quem alugamos o apartamento, ele não gostou e disse a ela que ela tinha uma semana para se mudar. E uma semana depois de ficar melhor amiga do Marim ela se foi com seu namorado, o Jansen, com quem eu nunca tinha trocado uma palavra.

Eu sempre vendo Núbia, Diovane, Marim e Stefano comprando comida juntos, fazendo comida juntos, comendo juntos e sempre sonhando em participar, depois de ser convidado algumas vezes e ter comido sem graça falei que eu queria também fazer parte, e foi assim que, teoricamente, meus problemas alimentares terminaram, agora eu faço parte das compras coletivas e como não cozinho nada, lavo as panelas.

A Núbia e o Diovane se mudaram para o quarto que era da carioca, e pro quarto deles chegou num novo casal, goiano, Janicelia e Rafael. E eles só vieram pra acentuar meu sentimento de sorte por ter parado aqui. Logo se entrosaram com Núbia e Diovane, e graças à eles eu comi feijoada assim, com carinho.

Se eu tivesse ido parar numa casa de jovens alegres e festeiros eu iria terminar muito isolado e sozinho. Aqui com o pessoal mais maduro, as pessoas têm uma atenção maior para comigo, um cuidado mesmo, e acima de tudo uma atmosfera familiar que me é importantíssima.

O Marcos loca esses apartamentos, e subloca para os brasileiros. Ele tinha um assistente pau-para-toda-obra, chamado Felipe, que foi com quem eu fui ver aquele apartamento na zona um antes de encontrar este. Mas então eles tiveram desacordos e o Marcos despediu o Felipe e contratou o Diovane no lugar! Aí foi que minha casa foi pra frente. Cortina nova no meu quarto, bem escurinha, cortinha nova no banheiro, pia que estava deslocada da parede consertada, enfim, só benefícios, e mais sorte.

No último sábado, fizemos um churrasco aqui em casa, onde eu comi macaxeira! (Que saudades...) A animação foi até 2 horas da manhã, ao som de Bruno e Marrone (Haha). Foi bem divertido, e não, os outros dois habitantes da casa dos quais não sei nem o nome não participaram, mas eles são tão quietos ou trabalham o tempo inteiro que tanto eu não os vejo, até esqueço que eles moram aqui. Esta semana já recebemos uma reclamação de nossos queridos vizinhos indianos, dizendo que fizemos barulho ilegal e etc. Segundo o pessoal, eles realmente chamam a polícia por qualquer motivo, barulho sendo o principal deles.

O leste de Londres é a área mais pobre da cidade, e tradicionalmente uma área de imigrantes africanos e indianos / paquistaneses / bangladeshi. Uns 20, 30 anos atrás, esta área era um nível quase favela, e até Jack, o Estripador, reinava por esta área. Nas últimas décadas, porém, a área recebeu um investimento maciço de várias setores, e foi assim que a região das docas, as docklands, está se tornando a área mais moderna de Londres, com clara inspiração em Nova Iorque, e já são hoje o distrito financeiro de Londres brigando de frente com a City, o distrito financeiro tradicional.

Guindastes e prédios em construção de escritórios, hotéis e residências estão por toda parte. A arena O2, construída para as comemorações do ano 2000, e hoje a principal arena para shows de Londres fica por aqui, e as olimpíadas de 2012 vão se concentrar totalmente aqui no lado leste. Mesmo o DLR é uma iniciativa recente de todas estas frentes que buscar desenvolver mais e mais o East London.

Mas são processos em andamento, e a área continua um reduto de imigrantes e sem o charme europeu característico que se encontra no lado oeste da cidade. O prédio em que eu moro é grande, feioso, habitado somente por indianos/paquistaneses e nós, e muitas vezes me lembra um cortiço. Mas eu olho para esta minha sorte encontrada aqui e eu realmente não acredito que eu me mudarei algum dia.


Legendas das fotos: Na primeira e terceira fotos, Eu esperando o trem na estação West India Quay, no DLR. Na segunda foto, a vista da minha varandinha. Na quarta foto, uma rua aqui pertinho de casa, em frente ao indiano onde eu carrego meu oyster, no caminho do DLR. E nas últimas duas fotos, meu cortiço querido, o Bethlehem House. Nesta última foto, minha varanda é a do meio/esquerda, segundo andar.


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