terça-feira, 15 de janeiro de 2008

the londoner #21

O pior do frio é o calor que se passa. Eu olho a temperatura antes de sair de casa, coloco meu ceroulão e a calça jeans, uma blusa normal, uma hiper grossa de frio, supercasaco de plumas de ganso por cima, cachecol, luvas e saio de casa, e a primeira coisa que penso é: não está tão frio assim, mas enfim, melhor prevenir sempre. Aí subo a escadinha do DLR, entro no trem, o trem vai para debaixo da terra e pronto, eu já sou um suor calorento afogado num monte de roupas.

Engana-se quem pensa que andar de metrô é leve e descontraído. Os túneis e conexões entre as linhas parecem na verdade desconexos, são dezenas de metros recheados de escadas subindo e descendo subindo e descendo e no fim uma simples troca de linha pareceu uma maratona. Agora imaginem isso com várias camadas de roupa de grossa. Agora imaginem Douglas correndo atrasado para o trabalho entrando num metrô tão lotado que você não precisa nem se apoiar ou se segurar, pois a massa de gentes se torna um só corpo. Quente.

Mas depois que você sai do metrô e toma um choque térmico bem simpático do vento desgraçado aqui de Londres – isso porque o problema aqui não é o frio em si, mas o vento, eu nunca tinha visto tanto vento num lugar assim na minha vida, ele é tão forte que as nuvens no céu passam numa velocidade que me faz sentir dentro de um filme com a velocidade adiantada – então é esse vento que corta sua pele enquanto você luta para adiantar dois passos, só para então você entrar num local qualquer, seja um café, uma loja, um museu ou na cozinha de um trabalho qualquer, que lá está você de novo num ambiente quente e abafado, soterrado de roupas de frio. E eu que sonhava em estudar, trabalhar e viver num lugar onde eu não tivesse que fazer tudo isso suado, quebrei a cara, nunca andei tão suado na vida. O pior do frio é o calor.

Mas isso ainda não faz do frio mais aprazível. Todos vocês devem saber do horror que sempre tive ao calor e de meus sonhos com gelo. E eu realmente achei que iria aproveitar bem esta vida num inverno austero, nem que fosse pela novidade da primeira vez. Mas foi assim naturalmente e sem sobressaltos que me vi concordando completamente com o David em pontos que sempre achei discordar. O inverno aqui é deprimente. Amanhece às 8 e às 4 está tudo escuro. Isso não seria tão ruim se o ritmo de vida das pessoas não se alterasse tanto, mas não é só a sensação de claro-escuro que faz com que as cinco da tarde pareçam 10 da noite, são as pessoas todas que se portam desta forma. O ambiente inteiro parece gripado, corizando, cabisbaixo, e todos com cara de quem estão loucos para ir para caso dormir porque já está muito tarde. Isso às 6 da noite.

Talvez por isso quando o sol dá o ar de sua graça, e ilumina a cidade com sua luz do que em Maceió seria quatro da tarde em pleno meio dia, a cidade inteira muda de cor, literalmente. Nunca pensei que o sentimento das pessoas pudesse ser tão apegado às condições atmosféricas. Que venha o verão.


PS: Tenho postado algumas fotos no flickr, mas como tem um limite de 100MB por mês vou ter que esperar até poder colocar novas fotos. E para os desligados, atrasados, curiosos ou mesmo os que preferirem, estou postando os e-mails em um blogue, para facilitar o acesso de vocês.

Capítulos Anteriores