Então o ano novo. Depois do natal não saí mais. Eu tinha intenção de aproveitar esta semana do ano novo em que eu não teria trabalhos com o John para passear e fazer turismo, que ainda não tinha feito. Mas adoeci e não saí mais de casa. E se ficar em casa aqui é péssimo porque só intensifica todos os sentimentos ruins que já criei em relação à minha estadia em Londres, ao menos eu me aproximei mais do pessoal aqui de casa. E como eu gostei deles.
O Stefano é casado com a irmã do Deovane, que é casado com a Núbia. O Deovane é uma pessoa muito boa, e já de cara disse que ia arrumar emprego para mim no restaurante onde ele trabalha, o Bodean’s, que serve costelas de porco e comida estadunidense correlata. A Núbia é outra pessoa adorável, trabalha fazendo faxinas de madrugada e também como babá de uma criança filha de brasileira com paquistanês. Aliás, trabalhava, porque a família foi pro Brasil e queria que ela fosse junto, como ela não foi, foi dispensada. Os dois são de Uberlândia e têm uma filha de 5 anos, a Giovana, que ficou no Brasil com a avó.
Porque o Stefano ficou aqui no quarto, e a Núbia é bem amiga do Marquinhos, eu acabei sendo incluído nas conversas, e talvez por eles serem adultos e com famílias o clima familiar que existe entre eles me deixa extasiado. Completando a casa, temos a carioca Helaine e seu namorado Jansen num quarto, e dois gaúchos que não sei nome em outro. Mas o Marquinhos ia embora, e na véspera de ano novo chega um amigo do Deovane do trabalho que é de Uberlândia também, o Marim.
Eu continuava muito doente, mas era véspera de ano novo e eu havia recusado trabalhar para o John e ganhar 12 libras a hora então eu tinha que ir aproveitar. Fomos eu e Carla para a casa do Filipe e do Ingo. O Filipe foi trabalhar, então ficamos eu Carla e Ingo bebendo e conversando na sala mais-que-aprazível que eles têm por lá e por volta das 20h30 fomos para Picadilly Circus encontrar um pessoal da turma deles. Lá encontramos o Tiaraju, que já nos esperava, e esperamos um pouco pelo Oscar, um colombiano, e seus amigos da Colômbia e Argentina.
Já bem atrasados, fomos todo juntos seguindo o fluxo de pessoas em direção ao rio, e mal chegamos à altura do St James’Park, a multidão era tão grande que acabamos espremidos e quase sufocando ficamos imóveis. Depois que algum fluxo de gente se criou e a gente conseguiu se movimentar, havíamos nos perdido dos hermanos todos e fomos eu, Carla, Ingo e Tiaraju procurar um meio de atravessar toda aquela multidão que se espremia num espaço aberto onde ocorrem apresentação da guarda montada para tentar chegar ao rio. Qual não foi nossa tristeza e frustração quando descobrimos que, 15 minutos antes da meia noite, todas as ruas para o rio haviam sido bloqueadas.
Voltamos e ficamos no parque mesmo, tentando ver o pouco que podíamos, mas nosso campo de visão se resumia a isto:
http://br.youtube.com/watch?v=8AjHP3lYaJA&eurl=http://www.orkut.com/FavoriteVideos.aspx?uid=4950090391194330271
Depois dos fogos, nos apertamos de novo tentando sair dali, e buscando diminuir um pouco a frustração, fomos tentar salvar a noite em algum lugar. Mas sem saber de festa ou evento, bar ou folia, andamos no meio da multidão sem destino em volta do rio, e terminamos fazendo algo que talvez fosse a única coisa com gosto de oportunidade única: ficar bebendo ao lado do Big Ben.
Eis que eu já não me lembro porque estou aqui. De repente o tempo passou e eu não sei o que estou fazendo aqui. Eu não tenho emprego nem ganho dinheiro, eu não estou estudando nem fazendo nada que possa construir para meu currículo, nem eu estou me divertindo. E foi assim que dois-mil-e-oito me encontrou.