terça-feira, 20 de novembro de 2007

The Londoner #5

É interessante perceber a interferência que causa o intercâmbio de visões de mundo de duas pessoas tão diferentes. O ladislav - que agora me explicou que não gosta de ser chamado de ladislav, mas sim de latzo - é diametralmente diferente de mim. Ele está aqui na inglaterra pra juntar dinheiro para comprar o maquinário que vai permitir que ele se torne um artista de hip hop! Isso mesmo. Uma amostra desta vantagem que tem o jovem europeu, trabalhar 6 meses aqui e ter dinheiro para seguir seus sonhos por sua conta e risco. A família dele era muito pobre, passou fome - comeram batatas por um ano, segundo ele - , o pai é músico e foi morar na alemanha, a mãe ficou no hospital porque o "coração dela parou por alguns segundos", como ele me explicou, e o irmão mais novo - 17 anos - foi preso com drogas.

Por estas e outras razões eles simplesmente não é capaz de me entender. Ele não entende que eu seja "advogado" e tenha vindo aqui para lavar pratos. Ele não entende que eu não esteja aqui para juntar rios de dinheiro e fazer minha vida, ele não entende que eu esteja aqui só por diversão, para conhecer o mundo, para viajar. Ele não entende. E é assim que ele não entende que eu queira me mudar desesperadamente ou que eu queira ir para o centro todo dia.

Ele veio para cá há cerca de um mês, e morava na zona 6, onde ele trabalhava como empilhador (foi o que eu entendi) de caixas de produtos no armazém do tesco, uma das maiores redes de supermecados daqui. Ele dirigia aquelas maquininhas que levantam caixas super pesadas, e foi deminitido depois de um mês porque ele não conseguia atender as porcentagens mínimas de produção que o gerente dele exigia. O dinheiro que ele tem aqui não dá nem para ele voltar para casa, e a família dele não tem como mandar nada, pois libras são infinitamente mais caras que a moeda da eslováquia. É assim que ele está desesperado e procurando por emprego.

Mas essa diferença já causou impacto muito interessante tanto em mim quanto nele.

No meu passaporte tem escrito que eu preciso me registrar na polícia em até 7 dias depois de desembarcar aqui. Então já que eu tinha me livrado do fardo do dossiê de paris, eu resolvi que deveria me registrar logo. Marquei com a carla lá äs 10 horas, mas como não tínhamos telefone acabamos não confirmando e eu me surpreendo quando o ladislav, antes preso ao gueto dos eslovacos, e resistente à idéia de ir procurar empregos no centro - como garçon ou algo parecido - chega e me diz que quer ir comigo, procurar emprego comigo. Fomos juntos procurar a polícia, mas eu nem endereço tinha, só o nome da estação de metrô.

Mais uma vez estava eu perdido pelas ruas, sem saber onde estava, perguntando ao povo na rua e não entendo as informações, e comecei a andar para cima e para baixo procurando a polícia, e quando achei, o policial nada simpático disse que não era lá, e lá fui eu subir a rua de novo. Isso o latzo super impaciente, quando esbarramos numa mulher que diz que não é polícia o nome do negócio, mas que era algo como estrangeiros alguma coisa (overseas), e sendo uma estrangeira ela mesma, nos deu uma direção mais precisa de onde ela achava que era o local. E o nome era overseas registration office, já tínhamos passado por lá pelomenos 4 vezes sem saber. Engraçado isso de que por a inglaterra ser uma ilha, qualquer outro país aqui é chamado de overseas (além-mar).

Depois de horas na fila veio o choque, tinha que pagar 34 libras para me registrar, e eu não fazia idéia disso. Foi assim que em menos de repente eu já tinha gastado mais de 110 libras que eu não esperava gastar (50 de depósito, 34 da carta pra paris e mais 34 agora). Eu fiquei realmente estressado, arrasado, vendo que o dinheiro que eu tinha trazido ia acabar muito antes do que eu imaginava. Então agora eu precisava de emprego, e com urgência, muita urgência.

Saí com o latzo pela rua em busca de hoteis, mas eu nem tinha meu currículo para deixar lá, nem ele. E nem adiantou, mal andamos demos de cara com a tower bridge, e de repente estávamos na parte mais velha do centro de londres, e ficamos como dois abestalhados olhando para cima. E ele finalmente tirou uma foto e ficou encantando com uma londres para a qual ele nunca tinha saído e visto. Mas já era hora da minha aula e eu me fui para escola enquanto ele foi em busca de hoteis.

A minha aula não é só insuportável por causa do professor arrogante e dos alunos debilóides - especialmente uma renata que eu já odiei de cara porque ela é a típica aluna que quer responder o tempo inteiro, comentar o tempo inteiro, falar o tempo inteiro, aparecer o tempo inteiro, enfim, insuportável, a aula ainda é estupidamente monótona. Então eu não aguentei, na hora do intervalo - 17h - saí correndo e fui para a lan house dos nepaleses, de novo, virei assíduo lá.

Eu estava muito arrasado, muito triste, porque gastei dinheiro demais, porque arrisquei demais minhas chances em paris, porque eu não sabia nem por onde começar a procurar emprego, e se eu já não gosto de pedir comida em restaurante, imaginem pedir emprego lá. Eu simplesmente não sei pedir as coisas assim. Então achei a carla no msn, e fomos nos encontrar de novo na oxford street, e no msn eu falei para minha mãe, pedi, implorei pelo skypephone, porque eu realmente precisava falar com vocês daí.

Mal encontrei carla fui direito na loja, e ela acabou comprando um também. Para os que ainda não conhecem, o skype é um programa de computador que permite que você fale de graça com qualquer outro computador do mundo todo. Mas esse celular é um passo à frente. Com ele eu posso falar do celular com qualquer computador do mundo - ou outros skypephones - de graça o dia inteiro. É por isso que eu insisto mais uma vez para que vocês todos instalem esse programa, criem um usuário, e me adicionem. O meu nome de usuário é douglasgustavo. E acreditem, eu sempre quero falar com alguém quando estou sozinho andando pela rua e nunca acho as pessoas online.

Quando cheguei em casa o latzo estava estranho. Eu contei que havia comprado o skypephone no cartão de crédito da minha mãe e este foi o estopim para que ele ficasse arisco e arredio, praticamente brigando comigo. Ele acha que eu sou um riquinho qualquer do brasil que veio brincar de ser pobre aqui, acha que sou um almofadinha de escola que veio aqui se divertir à toa, e isso de alguma forma ofende o fato de ese ter sido criado pelas ruas e ter vindo aqui sem dinheiro e quase passando necessidade. E não adiantava me explicar, ele só piorava.

Conversei muito no telefone pelomenos, e isso me deixou um tanto aliviado, mas ainda muito preocupado em como diabos eu iria catar um emprego em londres assim do nada, no meio da rua. Agulha em palheiro.






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