segunda-feira, 26 de novembro de 2007

the londonder #9


Na segunda de manhã o latzo amanheceu com remorsos acho. Disse que ele se considerava meu amigo e que eu podia contar com ele. Ele é boa pessoa, coitado, só acho que ele deve estar pirando por não ter dinheiro. Ele decidiu ir lá na bohemia world, procurar emprego numa lista de agências que eles têm lá, enquanto eu e carla zarpávamos para a nossa urgentíssima missão de conseguir uma conta num banco. O barclays tinha nos desprezado, então tentei ir no lloyds tsb perto de casa e a mulher disse que a carta da minha escola não servia. Eu fiquei ainda mais apreensivo, porque na carta da minha escola não tem o endreço da minha casa, mas sim o da bohemia world.

Então que fomos num hsbc perto da escola da carla lá em charing cross. Ela com uma carta bonita da escola dela, dirigida especificamente ao hsbc e confirmando os dados. Eu com minha carta vagabunda que a minha escola tinha mandado para mim comprovando meu pagamento pelo curso e por aquelas bastardas duas semanas de acomodação, carregando o endereço da agência dos checos e eslovacos. O homenzinho então veio com a conversa da conta passaporte de 6 libras por mês e eu perguntei se eles não tinham uma conta mais básica, gratuita, e ele falou com desgosto de uma conta que não dava direito nem a cartão de débido, só a um cartão pra sacar dinheiro e possivelmente ter uma poupança, sempre frisando que esta conta era uma merda e que deveríamos fazer a conta passaporte.

Não preciso nem dizer qual escolhemos, e eu claro empurrei a carta da carla primeiro para ver no que dava. Depois enfiei misturado junto a minha carta morrendo de medo do que ele diria. Ele parou, olhou, fez cara de quem ia lá dentro mostrar a não-sei-quem - assim com tinham feito todos os outros hominhos e mulherzinhas dos bancos que já tínhamos procurado, e que sempre voltavam com cara de i`m sorry - e disse acho que a gente não pode aceitar esta carta não, mas quer saber? Vou abrir mesmo assim, e depois eles pedem para você confirmar de novo. Eu nem conseguia acreditar no que ele disse e continuei nervoso esperando ele virar e dizer ôpa mudei de idéia dá não pra fazer sinto muito o tempo todo mas ele não virou e eu assinei e a tinta da impressora quase acabou mas ele imprimiu meu número da conta e agora sim eu sou o mais felizardo cliente do hsbc, o seu banco local no mundo todo.

Saí pulando pulando da agência, era como se agora eu finalmente tivesse a chave para ganhar dinheiro em londres. O latzo me liga dizendo que arrumou o endereço da agência que manda o povo para a tal fábrica de encaixotar dvds e disse que achava mas não tinha certeza que eu poderia trabalhar lá também e eu disse sem demora vamos lá não é como se eu fosse deixar de fazer alguma coisa importante agora. E fomos os trio parada dura procurar onde ficava no norte de londres, zona 4.

Mas eu não tinha acesso de underground para a zona 4 e a carla essa só tinha até a zona 2. Eis que então saímos da estação na zona 2 que ficava mais perto da zona 3 e de lá pegamos um ônibus completamente incertos que eles no levaria a onde queríamos. Os ônibus aqui não seguem os limites das zonas, você pode ir para qualquer lugar. Procurávamos por north finchley e como o lugar era bonito. Do alto do segundo andar do clássico ônibus vermelho londrino apreciamos uma área tipicamente inglesa com casas agarradas e bosques de contos-de-fadas no outono. Sempre com um olho nas plaquinhas para não acabar no lugar errado. E foi bem de sopetão que eu vi um ponto onde tinha north finchley escrito, o que nos levou a descer correndo aos tropeços a escada do ônibus para mergulhar na rua sem ter a mínima noção de onde estávamos ou de onde deveríamos ir.

O lazto tinha um mapinha mas mãos mas quando você não sabe o nome da rua em que se está e quando você não o encontra em plaquinhas azuis nas esquinas um mapa não serve de nada. Passamos por uma loja dedicada exclusivamente a máquinas de costurar e perguntamso a alguém na rua qual o nome dela. Mas de novo ninguém sabia, juro que não entendo como esse povo se localiza aqui. Acabamos encontrando uma plaquinha de uma rua transversal pendurada na parede de uma casa dizeno o nome daquela transversal e fomos nos batendo até que nos situamos no mapa e por fim encontramos a organe juice recruitmenet, a agência que procurávamos.

Uma vez lá dentro, o lazto desembestou a falar em eslovaco e a gente só entendia "brasilia, brasília!?, risadas, brasília". Aparentemente falando de mim e carla. Segundo o lazto eles estavam encantados com a primeira visão que tinham de brasileiros na vida. E olhe que a cara de carla - com mãe e pai polonês - passa longe de alguma cara brasileira. Mas o lazto ficou todo empolgado, ele disse que nós podíamos trabalhar na fábrica também, mas como nosso passaporte só permite meia jornada, trabalharíamos dois dias por semana só, num total de 24 horas por semana, para ganharmos 120 libras. Como eu me sustento tranqüilo só com esse valor, a idéia de me sustentar só trabalhando dois duas por semana foi tão sedutora que não demorou para que eu estivesse pulando - agora com casa, conta no banco e emprego! O checo lá perguntou quando poderíamos começar, e eu disse hoje! então ele nos colocou para trabalhar no dia seguinte já, na terça e quarta, e este seriam os dias em que trabalharíamos.

O trabalho consistia em empacotar dvds das 7 da noite às 7 manhã, num turno de 12 horas. Nós poderíamos ter escolhido trabalhar das 7 da manhã às 7 da noite, mas preferimos o turno noturno pois no deixaria com o dia livre. Desta 12 horas trabalharíamos 10 e teríamos 2 horas de intervalo, uma paga e outra não, de forma que receberíamos por 11 horas em cada turno trabalhado. Parecia miserável, mas razoável para apenas dois dias por semana. O lazto, ao contrário, decidiu trabalhar 6 dias por semana seguidos, para fazer quase 300 libras por semana. Ele pode, então tem mais é que aproveitar, mas eu acho que mesmo eu podendo, não conseguiria. Se bem que nem ele pareceu muito feliz, ele já sabia desse emprego, pois o pessoal lá da casa trabalha lá, mas deixou como última opção desesperada. O que me deixou mais tranquilo foi que ele falou que poderíamos mudar os dias em que trabalharíamos se precisássemos e que poderíamos sair do emprego quando quiséssemos, bastava ligar para ele. O salário, porém, só seria pago em 10 de janeiro.

Eu e carla estávamos radiantes com nosso primeiro emprego e o lazto chegou a se espantar com a disposição de carla para trabalhar tão escravamente, ao que eu respondi que ela estava mais nem aí para o tipo de emprego que eu, desde que resultasse em dinheiro. Eu - com carla não falando inglês e lazto não falando português - continuando em minha posição de intérprete necessário.

Na saída nos sentamos e comemos uns hambúrgueres de frango frito com batatas-fritas para comemorar. Aliás, ô povinho para gostar de frango frito esse aqui, viu? Aqui tem mais kfc - kentucky fried chicken - que eu via no eua e tem umas bodeguinhas com frango frito halal em todo buraco. Não sei o que é esse halal, mas assim como kebab, é algum tempero de preferência por aqui, deve ser árabe. Então que carla teve a idéia de que seria melhor para nós se trabalhássemos na sexta e no sábado, e assim nós poderíamos trabalhar em algo o resto da semana tranquilamente, e ainda dormiríamos em paz o domingo inteiro. Gostei muito da idéia e colocamos o lazto para ligar para o stepan e dizer qe queríamos mudar o dia do trabalho, o lazto ficou sem querer fazer mas fez, e o stepan disse que a gente poderia ir na sexta então na maior simplicidade. Essa simplicidade em que se é empregado aqui me impressionou de novo.

Nos despedimos do lazto e fomos eu e carla para o nosso treinamento com garçons para o que possivelmente significaria nosso segundo emprego! (Sim, nada de escola). Vários seres estranhos estavam por lá - nenhum outro brasileiro - uns pareciam árabes outras africanas e outros russos. O treinamento foi simples e aprendemos vários truques usados por garçon para carregar vários pratos e talheres e também que servimos o prato pela esquerda, as bebidas pela direita e retiramos os pratos também pela direita. Treinamento feito, a mulher lá que tinha me elogiado - e que não parecia mais ter idéia de quem eu fosse - ficou anotando dias em que as pessoas deveriam trabalhar. Então que ela coloca eu e carla para trablharmos na sexta, sábado e domingo começando às 7 da manhã.

Caos. A gente trabalharia das 7 da manhã até não-sei-que-horas de garçon, emendaria na fábrica das 7 da note às 7 da manhã do sábado quando recomeçaríamos nosso trabalho de garçon e depois no sábado às 7 emendaríamos com a fábrica de novo para sair direto para o garçon e só então domingo não sei que horas voltaríamos para casa e dormiríamos novamente. E coragem de ligar para o stepan e pedir para voltar os dias de trabalho para terça e quarta quem tinha? Eu não.

No caminho para casa convenci a carla a ligar para o stepan e como ela não fála inglês, eu escrevi o diálogo todo num caderninho para ela ficar lendo no telefone. HAHAHhaha. Era claro que isso ia não ia dar certo, mas eu é que não ia ligar. Decidimos que ela ligaria então no terça de manhã e eu fui para casa dormir, de repente com o problema inverso na cabeça, agora eu tinha empregos demais chocando os horários.

Capítulos Anteriores