sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

the londoner #20

Aqui eu sou como os homens das cavernas, cada novo dia nascido é uma nova batalha para conseguir comida. Aqui eu como quando saio à caça – e trabalho. Quando não trabalho, não como.

Neste ano novo comecei trabalhando na primeira sexta no The Crowne Plaza, este hotel aqui perto de casa. Acontece que ele fica na zona 3, e eu só compro oyster para as zonas 1 e 2, mas como para andar no DLR você só precisa passar o oyster na maquininha de quiser, eu vou sem pensar, andando ilegalmente, e morrendo de medo de aparecer um fiscal dentro do trem. Eu fico na plataforma bem no final e vejo o trem inteiro passar e olhe se tem algum fiscal, quando vejo que o fiscal está no primeiro vagão, vou para o segundo, e em cada parada que o trem faz, eu me levanto e fico olhando em volta para ver se alguém entra, devidamente com cara de assassino perturbado, já que eu não sei fazer essas coisas com cara de boa. Mas o melhor deste hotel é que eles pagam um taxi para te trazer em cada de madrugada.

Como sempre, o John me ligou desesperado porque alguém que trabalharia lá desistiu, e no fundo é basicamente assim só que ele me arruma trabalhos. Lá eu fiquei no bar, onde já havia ficado antes quando trabalhei com a super simpática Barbara, francesa em seu último dia de trabalho. Como já havia trabalhado lá, sabia que era bem simples, da outra vez eu só fiquei pegando copos sujos das mesas e lavando eles na máquina. Desta vez conheci Inga e Ludo, ela lituanesa, ele não sei, e infelizmente, nenhum dos dois muito simpático. Desta vez eles ficaram me jogando trabalho e me fizeram anotar os pedidos dos clientes também, o que se revela não só não-prático, como um tanto imbecil, considerando que eu não conheço o cardápio. Mas no fim das contas foi tranqüilo, e lá pela uma e meia, depois de um barraco leve entre ingleses bêbados, eu estava esperando meu taxi para me trazer em casa. Lá eu comi novamente um frango ao molho curry com arroz.

Ao longo da semana seguinte eu trabalhei quase todos os dias – à exceção da quarta-feira - no St Martins Lane Hotel. Logo na segunda de manhã eu conheci o Roberto, que chegou já puto com a Dagmara, sempre tratando todos com estupidez. Mal eu comecei a fazer minha primeira ação do dia no hotel – que é tirar umas mesinhas e cadeiras para o lado de fora – e parei para olhar um pôster que estava na parede do estúdio 1, ela já foi dizendo: “Douglas! As mesas e cadeiras!”. Durante esta semana, estava acontecendo um encontro internacional do MySpace, e os estúdios 1 e 2, onde eu trabalho por lá, ficavam fechados para reuniões e seminários, de forma que o trabalho era mínimo, consistia simplesmente em arrumar a sala antes que o pessoal chegasse colocando água e arrumando o backroom com café e chá para a hora do break. Mas não se enganem de que por isso o trabalho foi mais leve, estamos falando de Dagmara, a gerente mais chata de todas, e ela soube arrumar o que eu fazer. Na segunda e terça, que estava lá era a Aga, uma polonesa que trabalha lá permanentemente. A Samantha, brasileira também contratada de lá está de férias no Brasil, e o Rafal – também polonês –, o outro gerente que eu adoro estava trabalhando apenas no turno da tarde. E eu fiquei pensando no quanto sofreria estando apenas com Dagmara e Aga, pois Aga não é muito simpática, e ainda é puxa-saco da Dagmara. Mas ela é daquelas que quer se destacar por trabalhar muito e sempre bem, mesmo que isso signifique dedurar e reclamar dos outros para a Dagmara. Mas ela não era muito do tipo de ficar mandando, ela ia lá e fazia. O Roberto só ficou comigo na segunda-feira, e já ao meio dia a Dagmara percebeu que havia feito uma burrice em pedir duas pessoas à agência, pois que não havia mais o que ela arrumar para a gente fazer, então ela nos dispensou. E isso se repetiu nos outros dias, eu trabalhei sempre só quatro horas por dia lá. Claro que Dagmara me fez limpar a sala de apoio dos estúdios, as geladeiras, a máquina de gelo, os azulejos embaixo da pia, etc e etc. Mas eu sempre firme e sério trabalhador fiz tudo com eficiência e sem pestanejar, fazendo de tudo para que ela ao menos me retribuísse com um sorriso. Mas ela é Dagmara.

Na terça eu cheguei super cedo, antes dela, e fiquei lá à postos esperando ela chegar. E quando ela chegou apressada e me viu, eu esperando um sorriso e um muito bem Douglas, chegou cedo, ela disse: “Douglas, me acompanhe por favor”. Me levou até uma sala onde estava um senhor e disse: “Quando você chegar mais cedo pegue as chaves com ele e comece a fazer o serviço que já sabe que deve ser feito.” Aiai. E eu já conhecia o serviço mesmo, sabia onde ficava tudo, e nem precisa mais que me mandassem fazer as coisas ou explicassem nada. Como era boa essa sensação de integração e de saber o que se tem que fazer, foi um trabalho muito mais legal e tranqüilo, e deu até, vejam só, para socializar um pouco. A Aga acabou de se casar com um sulafricano, e agora em fevereiro vão casar na igreja na polônia e vão partir em lua de mel para a Tailândia. Eu queria muito poder trabalhar lá permanentemente, como contratado.

Na quinta feira em vez de Aga, estava Ewa, mais uma polonesa, esta sim simpática. O trabalho era o mesmo pouco, e como eu já havia faxinado toda a área de eventos do hotel mesmo, deu até para fazer tudo de forma descansada. A Ewa se formou em jornalismo na polônia, ela trabalhava 3 meses em Londres e voltava para mais um semestre na faculdade e se iludia de que assim que se formasse voltaria de vez para casa, mas agora se foram quatro meses de formada e ela ainda ali. Logo eu percebi que Ewa era um tanto preguiçosa, e me passava sutilmente todos os trabalhos para fazer, enquanto ela passou a manhã inteira fazendo nada na sala de apoio. Foi aí que eu percebi que entre a simpática preguiçosa e a antipática trabalhadora não havia muita diferença. Na sexta feira, diferentemente dos outros dias, eu trabalhei à tarde, e quando a Dagmara me viu lá já trabalhando ela quase gritou: “Mas que diabos você está fazendo aqui?”. Eu em choque nem soube falar, e fiz cara diz ouxe sei não. Depois que consegui ordenar minha língua expliquei que o John havia me mandado e ela disse tudo bem oquei não faz diferença. Mas apesar de chatice dela eu ria por dentro porque sei que ela gosta de mim, pois ela é tão chata que ela não aceita que o John mande qualquer um, ela escolhe quem ela quer que vá, portanto sei que ela me escolheu, já que trabalhei lá a semana toda.

Mas a melhor parte do St Martins Lane é a comida. Lá tem uma cantina onde é servida a comida feita para os funcionários. E é sempre bom, e sempre muito. Lá eu comi um pedaço e frango que mais parecia uma galinha inteira, e até errei ao pedir batatas em vez de arroz, porque lá você escolhe se quer comer o vegetariano ou o carnívoro, e um dos acompanhamentos. Mas sempre pode pegar sopa e pães à vontade, e como eu me esbaldei. Um dia peguei uma sopa lá que nem sabia o que era – verde – mas comi tudo com orgulho. Minha relação com a comida é muito diferente aqui, aqui eu não como por fome ou por prazer, aqui eu como só com a consciência de que preciso nutrir meu corpo, então faço o possível para manter meu corpo muito bem alimentado com essa minha refeição diária. Mas esta ambição já começava a passar dos limites, e na sexta-feira eu comi no horário de almoço antes de trabalhar, e no horário do jantar assim que saí – fish and chips, a mais tradicional comida britânica, que é um peixe empanado com batatas fritas. Passei mal por ter comido tanto num dia só.

Neste último dia, quando eu estava embaixo da pia limpando os canos caiu um monte de água salgada na minha blusa. Eu tenho duas blusas brancas só, uma que trouxe do Brasil e uma que comprei aqui por 3 libras. A primeira está amarela de tão encardida, e agora eu tinha enchido a segunda de sal. Então eu fui na lavanderia do hotel e peguei uma blusa branca nova, a mulher me deu e disse que eu entregasse no fim do dia, mas esqueci e acabei roubando a blusa sem querer. Espero que a Dagmara não esteja me odiando por lá, porque até hoje ainda não devolvi a blusa. Na sexta eu ainda trabalhei pela primeira vez com o Greg, o outro gerente, também polonês. E para os que estão se perguntando, sim, o polonês invadiram o reino unido de uma forma assustadora, já são quase 8 milhões. O Greg também é muito simpático, e depois de montarmos a sala para o dia seguinte, fui dispensado com minhas 4 horas de trabalho. Tantos dias trabalhados, e mesmo assim menos que 20 horas.

Mas na saída liguei para o John e ele perguntou se eu queria ir para o The Crowne Plaza de novo, cobrir mais alguém que havia faltado. Eu não queria nem um pouco, mas aqui a necessidade sempre fala mais alto, e lá fui eu trabalhar no bar de novo, de novo com o Ludo, mas sem Inga. Foi ainda mais tranqüilo que da outra vez, e lá chegou outro brasileira para cobrir a mesma vaga que eu! O Marcelo. Erro do John. O Marcelo super simpático, de São José do Rio Preto, está aqui há apenas duas semanas. E essa foi a primeira vez que eu conheci alguém que está aqui há mais tempo que eu. Nossa, eu já estou aqui há 2 meses.

Um comentário:

Anônimo disse...

2 meses véi. jah da pra dizer oficialmente q morou em londres =p.
e essas fotos? meu deus que lugar chiquerrimo, hehe, muito bonito mesmo, deve ser mto bom andar por aí, mto bom mesmo. quem sabe vc nao consegue algo permanente aí? =)
dagmara eh um nome de pessoa chata mesmo hehe... tdas as pessoas daí q vc descreve me parecem caricaturas

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