the londoner #8

A casa da carla é apaixonante. Não tem nada de especial, é apertadinha, com uma sala embaixo devidamente transformada em quarto e uma cozinha pequena, e um banheiro e três quartos pequenos em cima. Na verdade é um apartamento, que fica no segundo andar (que na verdade é o terceiro). Mas o que faz o lugar especial é que o marcos, o landlord - o homem que aluga as casas - mora lá com a esposa e o filho bebê, então a casa tem todo um toque de lar mesmo, tudo completamente limpo e arrumado e com toalhinhas e árvore de natal. Quando a carla ligou para ele dizendo que estava interessada no quarto a primeira pergunta que ele fez foi você usa drogas? É que é minha casa com meu filho dentro, então tenho que ter certeza. Haha.

Depois de sofrermos um bocado arrastando as malas pelas subindo e descendo as escadas do metrô de londres, e ainda passando por um túnel debaixo da rua sem querer achando que era para o metrô, chegammos no DLR. O DLR - Docklands Light Railway - é o sistema de transporte público desta região da cidade, das docas, ele é novo e moderno, e fica no alto, mas todas as estações têm elevadores. A conexão do undersground (metrô) com o DLR só é feita de forma desapercebida na estação de bank, nas outras você sai de um para entrar no outro. No nosso caso, saímos de tower hill para pegar o DLR em tower gateway. Eu adorei o DLR, um verdadeiro monorail, de onde você pode apreciar a cidade enquanto fála no telefone. =P

Poplar, onde a carla iria morar, fica vizinho a canary wharf, a região mais moderna de londres, e aqui eu preciso mostrar uma foto para vocês entenderem o quanto o lugar é legal:

A casa da carla fica ali em frente a torre do hsbc. Mal eu entrei na casa dela ouço bruno e marrone. E como é estranha a sensação de ouvir bruno e marrone em londres. No quarto dela tinha uma mulher com essas tocas de meia-calça na cabeça e eu pensei logo nossa, trouxeram até a empregada para cá, que legal. Que vergonha do meu preconceito, era a mulher do marcos. A moça que dividirá quarto com a carla não estava - passava os fins-de-semana na casa do namorado, e eu conheci eliane - que de repente mudou a música para padre marcelo rossi (sim, padre marcelo rossi em londres) e começou a cantar alto - e a má, que até hoje não sei má-de-quê. A eliane estava de viagem marcada de volta para o brasil na quinta feira. Ela tem um passaporte europeu - comprado por cinco mil libras - e trabalha de madrugado limpando aquela torre do hsbc. Mas depois de um ano lá ela foi promovida a supervisora da limpeza. Segundo ela mesma ela odeia londres e não vê a hora de voltar para casa. Mas eu fiquei sem entender qual é essa londres que ela odeia, pois na casa dela se ouve bruno e marrone e marcelo rossi, ela come feijão e arroz importados do brasil, acompanha a novela na globo internacional e só fála português. Vai entender. A tal má tem passaporte suísso e trabalha em 3 empregos diferentes, para fazer só 2-3 horas em cada um deles, assim se esquivando de pagar taxas - descontadas quando se trabalha mais de 6 horas por dia.

Eu tinha levado meu laptop todo feliz e lá era conexão por um cabo de rede e tudo funcionou muito feliz. Então a carla disse que me pagaria um almoço pela minha ajuda na mudança e eu aceitei, hehe. Fomos de ônibus a um asda gigante que tem lá perto e compramos congelados em geral. Eis que quando estou eu almoçando feliz alguma coisa com curry chega o felipe. Sim, o felipe que me deu o bolo para msotrar a casa na noite anterior. Eu fiquei todo confuso e ele explicou, não, eu trabalho para o marcos, quer ir lá ver a casa agora? Eu disse que sim, claro. E lá fomos nós.

Que feliz que eu estava de poder morar na zona 1, a 20 minutos de ônibus da oxford street. Que lindo que lindo. A casa era um lixo. Aliás, o apartamento, Era tão sujo e tão apertado que eu andei trombando em tudo. O banheiro fedia mais que um banheiro público. na parede um cartaz dizia que festas haviam sido proibidas - na última haviam quebrado o piso da cozinha. O apartamento tinha uns três andares apertados e umas vinte pessoas, mas na minha cabeça eu ainda ia gostar, claro que eu ia, zona 1 por 55 libras. Quando chegamos no meu quarto, vi que lá só cabia com muito esforço uma beliche e uma cama e três guarda-roupinhas de duas portas cada. Nem dava para andar. Um tal de japa dormia na cama de cima da beliche, e olhei para o que seria minha futura cama, a cama de baixo da beliche e em frente à porta.

Eu fiquei meio paralizado, já tinha perdido a casa-com-salinha-e-tv-widescree

n do outro homem lá e agora a casa em que eu apostara todas as minhas fichas era um chiqueiro apertado. E dormir em beliche sinceramente vai contra minha natureza. A carla disse logo na casa do felipe que não tinha gostado e perguntou se ele tinha algo mais, ele disse que não.

Voltei para a casa da carla arrasado e angustiado, eu estava tão crente que livraria dos eslovacos do walthamstow, mas bem, ainda faltava uma semana paa eu poder me mudar, em tentava me conformar. Quando chegamos de volta encontramos o marcos e eu falei que não gostei da casa nem da beliche - frisei - e perguntei se ele não tinha nada mais, como uma casa que ele havia comentado que teria ali perto. Ele disse que tinha sim, e perguntou se eu queria ver e eu fui na hora. O quarto fica a uma estação de poplar, em westferry, ainda no DLR, zona 2. Entrei e dei de cara com um cara de meia idade num computador num corredor, ele me cumprimentou e fomos então ver o quarto que poderia ser meu. Nele tinha um marquinhos dormindo que acordou exasperado atrasado para o trabalho e saiu correndo e então puder ver o quarto. Como o marcos sabe que brasileiro tem horror aos carpetes sujos daqui, ele muda o piso das casas para madeira. O quarto era limpo, levemente espaçoso, com três guarda-roupas de duas portas cada, três cômodas, três camas tipo box, tv, dvd e uma geladeira, e ainda tem de presente uma varandinha com uma vista espetacular de canary wharf. Fica no segundo andar.

Fomos para a cozinha e sentamos na mesa. A cozinha era grande e se os móveis não eram tão novos, eram limpos. Ele explicou que a máquina de secar roupas estava quebrada, mas a de lavar era nova. O banheiro era bem mais ou menos, com o sanitário separado de um lado, e a pia e o banheiro do outro lado do corredor, com portas separadas. Mas eu queria tanto uma definição, e um lugar com internet na zona 2, que o apartamente me pareceu infinitamente superior à casa com carpetes e com uma geladeirinha só e sem internet no fim da zona 3 em walthamstow. Mas eu sou a eterna indecisão, especialmente quando se trata com dinheiro, fico sempre achandoq ue estou à beira de pular na merda. Então eu falei, mas ó, porque para dividr com 3 é o mesmo preço que dividir com 2 como a carla está pagando, não é pra ser mais barato. Ele olhou para mim e disse que era verdade e que ele faria o quarto por 50 por semana para mim. 15 libras a menos por semana em relação ao que eu pagava em walthamstow. Eu olhei para a carla que sorria e dizia eu gostei e procurei a mão dos marcos com as minhas para apertá-las com força: está fechado.

Mas faltava o dinheiro né? Porque eu mesmo só tinha moedas. A carla se ofereceu para me emprrestar mas eu claro recusei, se não quero dever à minha mãe, imagina a estranhos. Então disse ao marcos que precisava sacar, eu que ainda não havia visto máquinas de sacar dinheiro pela cidade, e ele me levou lá numa conveniênciazinha e eu saquei 100 libras. Duas semanas de depósito adiantado e os outros 50 da primeira semana eu decidi dar os 50 do depósito do walthamstow, que eu retiraria na sexta, quando me mudasse. Eu continuei só com moedas. E sem emprego.

Mas agroa eu tinha casa com internet e eu queria me mudar no outro dia mesmo, no domingo, mas eu tinha que ficar na outra casa até sexta, pois já tinha pago, então paciência né, vamos lá viajar de volta para casa. No domingo de manhã assim que acordei - sem despertador, ou seja, bem tarde - comecei a arrumar minha mochila, para já deixar na casa da carla, de forma que quando eu me mudasse na sexta eu só precisasse levar uma mala só pelo sobe e desce de escadas do transporte público londrino. Eis então que a praga do latzo começa a me questionar, me pegando assim digamos com a boca na botija.

Eu que não iria contar à ele que já tinha até casa para me mudar, com medo do surto que ele teria, disse apenas que como sexta eu teria que me mudar mesmo, pois que só havia pago duas semanas para ali, estava indo deixar a mochila grande na casa da Carla, para facilitar minha vida. Ele disse eu sei o que você está fazendo, você está indo embora porque não gosta de mim, porque está com ciúmes de eu ter saído ontem com o lukas. Eu nem sabia como responder, sinceramente, só disse que ele sempre soube que eu me mudaria, e que enfim, se ele quisesse, não precisaríamos perder contato. Terminei de arrumar a mala e parti. Como eu queria me mudar naquele momento mesmo, como eu queria.

Fiquei usando a internet da casa da Carla num domingo bem morno e depois resolvemos ir finalmente visitar o belo canary wharf, para descobrir que uma área que ferve durante a semana num happy hour de executivos que descem de seus prédios direto para os bares no solo, não tinha vivalma num domingo à noite, em que ninguém trabalhava.