Douglas, correio, Douglas, correio. Era o Jano que me acordava esfregando um envelope na minha cara. Que simpático da parte dele. Era meu studen oyster photocard! Que eu achei que não chegaria a tempo da mudança! Com esse cartão eu pagaria 30% a menos no transporte aqui. Já levantei da cama feliz, ainda mais considerando que era o tão esperado e aguardado dia de minha mudança.
Me sentei no chão e comecei a arrumar tudo na mala que restava. Como tudo não coube entupi a bolsa-carteiro que virou minha melhor amiga aqui. Como ainda assim não coube tudo enfiei o forro da cama e a fronha na bolsinha do laptop. Droga, tinha gente em casa e eu que queria sair tão furtivamente ia ter que ensaiar alguma despedida.
Eu gostava deles. Na segunda à noite quando eu falava na cozinha com meu skypephone chegaram Arado e Vlado conversando alegremente e o arado, com as seis frases em inglês que sabia, me disse que tinha um presente para mim, um presente da Eslováquia. Era que Lucy - na verdade Lucia - , sua namorada há oito anos tinha chegado de lá, e trouxe uma bebida super forte e comidas de casa. Ele nos serviu eu e Vlado, brindamos, e ele ficou insistindo para que eu bebesse e continuou enchendo meu copo da bebida verde com gosto de menta. Ainda cortou o salsichão – com um gosto forte e esquisito – e serviu num prato para nós. Ele gostava de mim, ele que havia me trazido para casa, e mesmo sem falar inglês – e os dois não paravam de tagarelar em eslovaco – eu sentia que eles gostavam de mim.
Mas eu estava na quinta-feira, minha mudança, e agora tinha que dar um jeito de dizer tchau para estas pessoas. Escrevi uma carta para o Latzo, dizendo em geral que não precisávamos perder contato e que ele me mandasse uma mensagem quando tivesse algum dia de folga. Então saí de mala e cuia e fui falar com Lucy, que fazia uma faxina desesperada pela casa, sempre com seu jeito trombado e impaciente. Expliquei com gestos que eu ia embora, e ela olhou e sorriu estranha surpresa e disse tchau me deixando do outro lado daquele abismo cultural sem saber se eu apertava sua mão ou se esse tico de contato seria ofensivo demais. Resolvi me apressar e sair logo, com um aceno de longe, e no corredor ainda topo com uma cara estranha de surpresa inconformada de Jano, que fala com as mãos mas o que diabo você está fazendo, ao que as minhas dizem estou indo embora, e as levanto para que elas encontrem um sorriso no meu rosto, de forma que ele direcionado por elas entendesse que eu partia feliz. Mas ele continua com sua cara de raiva, e o que ele tentou dizer eu não entendi, mas preferi não arriscar, dei a volta, parti e fechei a porta.
Despedi-me da high street e sua feira constante, pensando que sentiria falta sim daqueles arredores simpáticos e do fato de ter uma rua comercial assim na esquina de casa. Fui lá na bohemia world buscar meu depósito e com muito horror escalei as escadas de novo até lá em cima, onde quase não consigo encontrar o papelzinho comprovante do depósito, e a senhora-vendedora-de-órgãos parecia se deleitar com minha agonia, crente que lucraria umas cinqüenta libras não merecidas. Mas eu encontrei o comprovante, e peguei aquela nota de cinqüenta, que em poucas horas de transformaria no pagamento da minha primeira semana de aluguel na nova casa.
Depois de algumas horas e alguns trens cheguei na casa do marcos – casa da Carla – e ele então me acompanhou até os portões do número 15, bethlehem house, na limehouse causeway, E14 8AG, meu novo lar. Mas o marcos não tinha as chaves, e lá embaixo, refletindo uma modernidade que eu já havia encontrado em são Paulo e belo horizonte, basta você aproximar seu cartão, que a porta já abre, e isto uma senhora que entrava fez por nós. Mas lá no segundo andar não tinha ninguém, e então que o marcos entra pela janela da cozinha, que não sei se quebrada ou não, parece estar sempre só escorada. E lá dentro até tinha um cara, mas o marquinhos – que dividirá quarto comigo – não estava. O terceiro morador do meu quarto ainda chegaria, estava na Itália, aparentemente. Mal entrei e derrubei minhas coisas em cima da minha cama minha obsessão era fazer a internete sem fio funcionar no laptop, e foi depois de algumas tentativas da Carla e telefonemas para Davi que finalmente eu me sentia um nerd completo de novo, agora com internete.
Tentei fazer uma barricada para minha cama, colocando o guarda-roupas branco de duas portas e a cômoda branca de três gavetas grandes e duas pequenas para esconder minha cama. Mas não coube, e eu vou ter que me acostumar a viver assim sem barricada mesmo. Fui com Carla fazer compras, comprar edredom e travesseiro – que na velha casa já tinha e que aqui não – e algumas coisinhas para comer. Mas no mais tudo o que eu queria era voltar para casa e aproveitar da internete, haha, o que não fazia já há duas semanas que mais pareciam dois meses.
Na minha casa antiga, éramos 13 pessoas, um banheiro e um lavado, uma geladeira pequena, e mais nada. Aqui somos 9 – ou 8, visto que o outro ser que dividirá quarto comigo não chegou ainda – cada quarto tem sua própria geladeira – que aqui o freezer fica sempre embaixo – tem TV e DVDs nos quartos, interenete sem fio, um computador de uso comum no corredor, uma faxineira que vem todas as semanas e um só banheiro, pior que o da casa antiga, mas tudo isso por 15 libras a menos por semana. Me sentia no paraíso.
Ah, e a fábrica. Mandei uma mensagem para o Stepan, dizendo que desculpa mas eu e Carla arranjamos um emprego novo e não podemos ir mais. E o pior é que a Carla ainda queria continuar indo uma vez por semana. Mas eu estava decidido, nunca mais pisaria lá. E o emprego da sexta feira de manhãzinha – 5 da manhã eu tinha que me acordar – como garçom da worlkplace solutions ia ter que ser bom, ia ter que dar certo, porque agora era só o que eu tinha.
Um comentário:
ahh que legal que vc gostava deles e sentia que eles gostavam de vc, eu nao sabia disso!
e viva as diferenças da sua casa antiga pra a nova né, bem mais feliz, hehe...
o banheiro é mto pior, ou da pra sobreviver?
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